Notícias Especiais – Sou Frígida

209

Usualmente tratada com preconceito, a frigidez é um a disfunção sexual que deve receber ajuda médica; especialistas explicam por que algumas mulheres ficam “geladas” ao toque erótico

Por Pamela Cristina Leme

Com tantos padrões de comportamento sexual impostos pela mídia, não é difícil entender porque muitas mulheres ainda confundem frigidez com queda da libido e falta de orgasmo ou de excitação. O termo, cunhado por Freud no início do século XX para discriminar a mulher “fria”, aquela que não tinha desejo sexual, hoje é rejeitado pela ala médica, que considera a palavrinha ambígua e pejorativa. Isso porque ser frígida não significa simplesmente ser esnobe, assexuada ou incapaz de sentir afeto. O problema agora tem uma conotação mais ampla, e representa disfunções sexuais ligadas à falta de prazer e de desejo.

“Nos dias atuais, a frigidez é tratada como uma disfunção sexual feminina, e é a mais severa de todas”, explica o psicólogo Paulo Rennes Marçal Ribeiro, coordenador do Núcleo de Estudos da Sexualidade (Nusex) da Unesp de Araraquara (SP). De acordo com o médico, o problema se deve na maioria das vezes a bloqueios total ou parcial da resposta psico-fisiológica -em outras palavras, o emocional da mulher não a permite manifestar as conseqüências mais básicas do estímulo sexual, como a lubrificação vaginal, o relaxamento e o aumento da circulação sanguínea. Daí o desinteresse pelo sexo.

Em grande parte dos casos, esse comportamento está ligado a fatores psicológicos, sociais e até religiosos. Também a educação que se recebeu, a falta de diálogo entre os parceiros, as práticas sexuais pouco gratificantes e até a resistência em inovar acabam minando o relacionamento e facilitam a apatia quando o assunto é sexo. Muitas mulheres foram criadas para acreditar que o homem é quem comenda a relação, enquanto elas não passam de um agente passivo. Outras, baseadas em dogmas religiosos, se apóiam numa suposta “pureza” cobrada pela sociedade.

Há ainda quem ainda teve uma relação conflituosa com a mãe, que associou o sexo à infelicidade. Além disso, o próprio fato de envelhecer, situações traumáticas e as dificuldades do cotidiano também podem interferir na satisfação sexual. Apesar de mais rara, a falta de desejo às vezes está ligada a problemas orgânicos, como alterações hormonais, debilidade física por conta de doenças e até mesmo pelo uso incorreto de medicamentos como tranqüilizantes e antidepressivos.

Tríade do prazer

O psiquiatra Leonard Verea, diretor do Instituto Verea (especializado no tratamento de distúrbios de origem psicossomática), de São Paulo, afirma que a resposta sexual feminina envolve desejo, excitação e orgasmo, e esse tipo de distúrbio, que costuma acometer mulheres entre os 23 e os 40 anos, é capaz de interferir em qualquer uma dessas fases.

“O sexo se faz por vontade e não por obrigação. Mais: ele é uma troca. No entanto, quem sofre desse problema foi coibido a não registrar a atividade sexual como uma forma de prazer”, ressalta. A chamada frígida, de uma maneira geral, nega o merecimento do gozo no inconsciente. Segundo Paulo Rennes, essa disfunção sexual é desencadeada pela falta de interesse ou de conhecimento do parceiro sobre a sexualidade feminina.

“Muitos casos ocorrem por conta do homem. Ele esquece que as mulheres necessitam de uma atenção mais especial durante o sexo para se entregar e chegar ao orgasmo”, garante o psicólogo. As preliminares, por exemplo, deixam a mulher excitada o suficiente para uma transa legal. Mas se o parceiro só pensa nele, pode ser que ela perca o interesse e não ache mais emoção no sexo. Muitas ainda reclamam de dores fortes no ato sexual, no entanto, poucas se questionam que, dependendo do grau de excitação, são capazes de não sentir dor alguma.

Os médicos apontam que é importante diferenciar bem as fases da resposta sexual, e identificá-las para uma correta instituição terapêutica. No entanto, muitas vezes a queixa esbarra do medo do julgamento alheio e as mulheres escondem o distúrbio. “Existe muita fantasia e preconceito em relação a esse problema. E como a mulher moderna precisa ser sempre poderosa -bonita, boa de cama, eficiente em casa e no trabalho -, muitas deixam se relatar o distúrbio aos amigos e até aos médicos por se sentirem fracassadas”, aponta o psicólogo da Unesp.

Conhece-te a ti mesma

Para tratar esse problema que tem solução sim! -, existem várias linhas terapêuticas que buscam identificar a origem do bloqueio em relação ao sexo. Se o caminho é fácil? Nem um pouco. É preciso vencer tabus, acabar com as cobranças internas e, de quebra, externas, dividir com o parceiro os próprios desejos e intenções e, se tudo isso não for suficiente, buscar a ajuda de um especialista.

A psicóloga Dorit Wallach, coordenadora da clínica Prism a, de São Paulo, enfatiza que o principal nesse processo é conseguir resgatar as origens dessa perda do desejo e do prazer, não só quanto ao sexo, mas na associação dele com outros contextos de afetividade humana. “A psicoterapia vai trabalhar questões como apego, confiança, auto-estima, imagem corporal e expectativas sobre si mesmo e sobre os outros”, sinaliza a médica.

Serviço:

Clínica Prisma

Rua Urussuí, 92, conj. 26 -Itaim-Bibi -São Paulo, SP
Fones:             (11) 3071-2376       e 3071-2328
Site: w w w .clinicaprism a.com .br

Instituto Verea

Av. Lavandisca, 741, conj. 108 -Moema -São Paulo, SP

Fone:             (11) 5051-2055
Site: w w w .verea.com .br

Fotos ilustrativas: Photocase

Pamela Cristina Leme

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, insira seu comentário!
Por favor, insira seu nome aqui