Ciúmes

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. O ciúme é um sentimento que faz parte do ser humano?

O ciúme é uma emoção, instintiva e natural. Os animais também manifestam ciúme. É um sentimento comum a todos os seres humanos – quando se fala a palavra ciúme todo mundo sabe seu significado porque já sentiu. Mas não devemos nos deixar guiar pelo ciúme, pois as emoções são más conselheiras. A arte do viver consiste em ter a emoção como motor e a razão como leme, assim aquela nos motiva e esta nos orienta. Neste sentido, o ciúme pode ser o útil motor que nos leva a sermos cuidadosos com nosso objeto de amor, mas sempre lembrando que cuidado não quer dizer controle, nem domínio. Por ser instintivo, o ciúme é verdadeiro e deve merecer nosso respeito; mas é também irracional e precisa ser examinado e aceito pela razão. Respeito não significa aceitação. O ciúme quando não temperado pela razão nos torna possessivos, o que também é uma característica natural (pois também se encontra nos outros animais); mas o desejo de um ser humano para dominar e controlar os outros e tratá-los como uma propriedade sua ofende nossa inteligência. Basicamente, o ciúme consiste no medo de perder para outro o objeto amado. E para que tal não ocorra devemos zelar pelo nosso amor. Zelo e ciúme andam próximos – em espanhol a palavra “celoso” tanto significa zeloso quanto ciumento. Ou seja, o ciúme nos faz zelosos. A insegurança é uma das causas do crescimento anormal do ciúme. Em geral está relacionada com a consciência de estarmos sendo pouco cuidadosos ou incompetentes quanto à nossa relação amorosa. Quem não cuida de seu amor acaba sentindo-se em falta e temendo ser castigado e a expectativa gerada por este sentimento de culpa agrava o sentimento de ciúme. Os jovens costumam ser muito ciumentos por insegurança em relação à sua capacidade para administrar o namoro. Por vezes, o ciúme nem tem a ver com a questão sexual. Podemos ter ciúme da pessoa amada, mesmo sabendo que ela não vai ter encontros sexuais com outras pessoas, mas simplesmente porque ela fica falando no telefone quando estamos querendo conversar. Mera possessividade, uma característica instintiva do ser humano e de grande parte dos mamíferos, que temos que reconhecer que possuímos, mas à qual não devemos ficar escravizados, como não devemos ficar escravizados às outras nossas características instintivas, embora as reconhecendo e respeitando.

 

 

. Muitas pessoas têm ciúme de bandas favoritas ou de coisas. Quais as causas para que as pessoas desenvolvam ciúme de coisas? . É comum ter ciúme do pai e da mãe?

Em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. Depois das ideias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O(a) ciumento(a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro(a), contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmadas pelo(a) companheiro(a), essas inquisições permanentes parecem trazer mais dúvidas ainda, ao invés de tranquilidade. Depois da capitulação, a confissão do companheiro(a) nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior. Os portadores de Ciúme Patológico comumente realizam visitas ou telefonemas de surpresa em casa ou no trabalho para confirmar suas suspeitas. Os companheiros(as) desses pacientes vivem ocultando e dissimulando elogios e presentes recebidos ou omitindo fatos e informações na tentativa de minimizar os graves problemas de ciúme, mas geralmente agravam ainda mais. O que aparece no Ciúme Patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do companheiro(a). Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. O Ciúme Patológico é um problema importante para a psiquiatria, envolvendo riscos e sofrimentos. Na psicopatologia o ciúme pode se relacionar a diversos transtornos emocionais. Mais comumente está relacionado aos Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo.

 

 

. Quais terapias podem ajudar a amenizar o ciúme?

A pessoa que desenvolve um ciúme possessivo e obsessivo pelo parceiro pode estar sofrendo de um distúrbio obsessivo ou pode apresentar sintomas de uma personalidade obsessiva compulsiva. A pessoa que sofre com ciúmes pode ter uma personalidade obsessiva compulsiva que possui um padrão característico de sintomas que precisam ser observados como se há um padrão persistente de preocupação com asseio, perfeccionismo, controle mental e interpessoal. Há pouca flexibilidade, transparência, relaxamento das preocupações de dos pensamentos, os pensamentos apresentam pouca eficiência, os pensamentos acontecem recorrentemente, ou seja, não saem da cabeça. Este distúrbio começa no início da vida adulta e apresentam uma variedade de contextos, como indicado por quatro (ou mais) dos seguintes sintomas :  1. Estar preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários e com o que ainda vai fazer. 2. Mostra perfeccionismo que interfere com a tarefa concluída (por exemplo, é impossível concluir um projeto devido ao aumento de suas próprias exigências das normas e regras). 3. É demasiadamente dedicado ao trabalho e produtividade e deixa de lado as atividades de lazer e amizades. 4. É muito convencido de seus próprios pensamentos, não aceita a opinião alheia, ou não acredita nas evidências que a outra pessoa aponta, é escrupuloso, é inflexível em matéria de moralidade, ética ou valores. 5. É incapaz de se desfazer de objetos sem valor, mesmo quando estes não têm valor nem sentimental. 6. Mostra-se relutante em delegar tarefas ou a trabalhar com outras pessoas, salvo se apresentarem exatamente a sua mesma maneira de fazer as coisas e a mesma forma de pensamento que o seu. 7. Adota um estilo pão-duro, o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para as futuras catástrofes. 8. Mostra rigidez e teimosia. 9. Acredita piamente em seus pensamentos e acha que os outros estão mentindo. NO caso do ciúmes, nunca aceita a explicação do utro, ou acha que está sendo sempre enganada. 10. Pensa o tempo todo em como controlar a outra pessoa a ponto de querer acompanhar tudo o que ela faz, onde está, o que está pensando, numa necessidade de posse do outro. Os indivíduos que sofrem desta desordem de personalidade muitas vezes se caracterizam pela sua falta de abertura e flexibilidade, não só em suas rotinas diárias, mas também com as relações interpessoais e expectativas. A imensa preocupação com asseio, perfeccionismo e controle de suas vidas e de suas relações ocupam grande parte de sua vida. As opções de tratamento opções que não se encaixam no esquema cognitivo do cliente provavelmente será rejeitada rapidamente ao invés de ser uma tentativa aprovada por ele. Os indivíduos que sofrem deste distúrbio têm dificuldade em incorporar novas informações e mudanças em suas vidas. Para incorporar novas aprendizagens é necessário uma empatia muito grande com o terapeuta para que o mesmo consiga colocar novos planos de vida e confrontação com a realidade para que ocorra novas reestruturações cognitivas. A técnica de relaxamento é uma indicação para concorrência com os pensamentos disfuncionais e com a ansiedade vivida pela necessidade de controle. A capacidade para trabalhar com os outros é igualmente afetada, uma vez que eles vêem o mundo em preto e branco, acham que somente a sua maneira de fazer as coisas é a correta.

A técnica de confrontação com a realidade e a busca de evidências na terapia cognitiva comportamental é uma forma que ajuda muito a pessoa com ciúmes obsessivo a entender o modo de funcionamento de seus pensamentos e fantasias, conseguindo diferenciar entre estes aspectos. A terapia de casal pode ser indicada quando o ciúmes está focado no parceiro que não aceita sua doença e terapia e, consequentemente fica mais fácil aceitar o atendimento terapêutico para ambos. O ciúmes possessivo atrapalha a relação do casal e se não for trabalhadas estas questões acontece o desgaste muito rápido na relação, interferindo em direitos e deveres de cada um e principalmente no respeito entre o casal. A busca de ajuda terapêutica permite uma melhor avaliação do contexto e pode haver encaminhamento para uma avaliação médica e psiquiatra, pois em alguns casos há a necessidade de intervenção medicamentosa para maior controle da ansiedade e dos pensamentos obsessivos.

 

 

O ciúme pode destruir casais, como é o caso mostrado na novela “Em Família”. É comum que as pessoas sintam esse ciúme  violento? Qual a explicação para esse tipo de comportamento?

As manifestações destrutivas do ciúme – desde as conhecidas “cenas de ciúme” acompanhadas de gritos e choros até a violência mais explícita das agressões – fazem parte do conjunto de impulsos naturais e selvagens que possuímos e cuja repressão é proposta como base para a vida civilizada. Desde muito cedo somos treinados a controlar nossos impulsos naturais, começando na mais precoce infância pelo controle das excreções com o uso do penico. Aliás, este talvez seja o lugar ideal para despejarmos os nossos ciúmes, pois quando deixamos os sentimentos guiarem sem restrições nosso comportamento os resultados costumam ser catastróficos. Quando encaramos a relação amorosa como uma relação livre entre dois adultos independentes, nela não há lugar para nos sentirmos proprietários de nosso(a) parceiro(a). Por isto, temos que estar diária e permanentemente reconquistando e seduzindo o outro e zelando pelo relacionamento.

 

 

. Existe cura para o ciúme excessivo?

Sim, atualmente uma nova abordagem é o uso da Hipnose Dinâmica. Quando se fala em hipnose, muitas pessoas ainda acreditam que a técnica é um ato de magia. Na verdade, é uma ferramenta, um ato médico, que proporciona ao paciente um estado profundo de concentração através da diminuição da consciência periférica. O tratamento com hipnose clínica possibilita o contato com o inconsciente, ou seja, com as emoções que não passam pelos julgamentos, críticas e avaliações da mente consciente. A partir da comunicação com o inconsciente, o paciente reconhece seus reais sentimentos (desejos, medos, angústias, dúvidas, paixões) e, desta forma, consegue reordená-los, reorganizá-los de uma maneira que proporcionem bem-estar e equilíbrio pessoal. Como em qualquer outro tratamento de doenças psicossomáticas, na primeira consulta o médico avalia o problema do paciente. O diferencial é que já no encontro inicial, é feito um teste de indução hipnótica para que os caminhos da terapia sejam definidos. No decorrer das consultas, o médico utiliza a hipnose clínica para a indução a um estado alterado da consciência. O método leva no máximo de 3 a 4 minutos e o paciente continua consciente. A grande vantagem da técnica é que o contato com o inconsciente é facilitado, proporcionando um tratamento mais assertivo e com resultados práticos.É uma ferramenta do tratamento que não causa danos e não pode, em hipótese alguma, obrigar alguém a cometer atos contrários aos seus princípios, devido aos níveis de tolerância e as censuras que cada indivíduo possui. É válido salientar que ninguém pode ser hipnotizado se não quiser, se não permitir.

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