Como melhorar a vida sexual na maturidade

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Sexo é bom em todas as idades, mas não é sempre igual. A sexualidade é parte integrante da nossa vida, seja no campo genital, seja no campo afetivo, e manter uma atividade sexual é preservar uma possibilidade de prazer individual e também de encontro com o outro.

 

Algumas dificuldades ficam mais frequentes com a idade, como problemas de desejo e excitação e também a dificuldade de encontrar parceria amorosa. Temos um gap enorme, pois os homens estatisticamente morrem mais cedo e ainda buscam mulheres mais novas para se relacionar. Então, nem sempre as mulheres que estão sozinhas na maturidade conseguem encontrar parceiros para compartilhar esses prazeres.

 

Para sanar os problemas relacionados a desejo e excitação, a medicina e a terapia sexual são ferramentas importantes que minimizam sintomas e apontam caminhos. Porém, ainda há dificuldade na busca de ajuda terapêutica, principalmente dos homens mais velhos, que acham que tudo se resolve com um medicamento para ereção.

Mudanças

Com o envelhecimento, o corpo vai se transformando e há diminuição na produção dos hormônios sexuais, o que modifica a resposta sexual. Também é um processo emocional, já que em nossa cultura o envelhecimento é encarado como uma etapa de perdas e não de ganhos; tudo aquilo que compreendemos como sexy, bonito e excitante está associado à juventude, você precisa encontrar erotismo, mas não tem referências e reforços externos positivos.

 

Também há grandes diferenças entre homens e mulheres nesse sentido. A menopausa tende a provocar mudanças mais abruptas do que a andropausa. Enquanto na andropausa os homens vão tendo diminuição da produção de testosterona de maneira gradual, as mulheres sofrem mais intensamente com fogachos, diminuição da lubrificação, irritabilidade, baixa de desejo e alteração no padrão de sono, o que pode atrapalhar a disponibilidade da mulher para o encontro sexual.

 

Nem todas as mulheres sofrem ou apresentam sintomas e um bom acompanhamento médico auxilia no processo, minimizando os efeitos indesejáveis. O acompanhamento psicológico também favorece muito a vivência do fenômeno.

– O sexo na terceira idade tem pesos diferentes para homens e mulheres?

Não exatamente. Não há nenhuma justificativa, pelo menos na nossa sociedade, para que o sexo não seja importante em homens ou mulheres. Por outro lado, após a menopausa, sabemos que pode ocorrer diminuição da libido feminina (o que não é considerado nem normal, nem obrigatório do envelhecimento feminino. Sendo comum, embora não normal, esta diminuição de libido pós menopausa pode explicar o desinteresse que algumas mulheres passam a experimentar no ato sexual ao longo de seus envelhecimentos. Como não há uma verdadeira andropausa (isto é, o homem não passa por uma cessação fisiológica súbita da produção de seus hormonios), isto não se verifica no homem, podendo gerar um descompasso nos casais que envelhecem juntos (ele mantendo o interesse e ela diminuindo). Porém, enfatizo não é normal, não ocorre na maioria das mulheres e tem tratamento – e a maioria das mulheres que apresentou esta perda de libido e tratou reconhece um aumento de sua qualidade de vida. 

 

 

– Quais as mudanças fisiológicas e hormonais que a terceira idade impõe à vida sexual deles e delas?

Vamos falar do que acontece normalmente:

  1. a) em mulheres: a mulher chega na terceira idade em seu período pós-menopausa. Nelas, isto significa a parada súbita e definitiva na produção dos hormônios sexuais; como dito antes, isto pode diminuir a libido (mas nem sempre). Além da possível alteração da libido, as alterações hormonais tornam a mucosa vaginal mais delicada e menos resistente, além de haver diminuição na lubrificação natural da vagina. Isto significa que a penetração vaginal costuma se tornar menos confortável e elas se tornam mais propensas a sofrerem micro-ferimentos na mucosa vaginal, quando a penetração pode até mesmo se tornar muito dolorosa. Como isto é algo muito comum e nem sempre é relatado ao médico e tratado, muitas mulheres acabam abandonando a prática sexual por desconforto, não por desinteresse. O tratamento é muito simples, pois, para a resistência da mucosa, o geriatra ou  o ginecologista pode prescrever hormônios de ação local (pomadas, que não possuem nenhum risco – não é reposição hormonal, mas apenas aplicação local), bem como o casal pode aderir ao uso dos lubrificantes íntimos, que tornam a penetração mais confortável.

 

  1. b) nos homens: diferentemente das mulheres, o natural no envelhecimento masculino é a diminuição lenta e gradual da testosterona ao longo de muitas décadas, de forma que esperamos produção de testosterona ainda em níveis normais mesmo nos muito idosos. Assim, o efeito da redução da testosterona é muito lento. De fato a libido masculina e a capacidade erétil do homem diminuem ao longo do envelhecimento, mas de forma muito lenta – desta forma, o envelhecimento saudável não impedirá a prática sexual pelo homem. Dentro do envelhecimento normal, o que se observará é uma diminuição muito lenta e gradual na libido masculina, bem como na qualidade das ereções. A ereção peniana progressivamente se torna menos frequente e dependente de maiores estímulos, o turgor peniano durante a ereção diminui e o período refratário (período de tempo em que o homem não consegue obter uma segunda ereção após o orgasmo) aumenta. Reitero: nenhuma destas mudanças impede o ato sexual no envelhecimento normal, mas é normal que a frequência do ato sexual lentamente diminua em razão destas transformações em homens e mulheres. Vale notar também que, com o advento do sildenafila e outros vasodilatadores penianos, muitos homens com dificuldade erétil, oriunda de problemas de saúde (como o fumo) somados ao envelhecimento normal passaram a se tornar novamente aptos para o ato sexual.

 

 

 

– O orgasmo nesta faixa etária muda de alguma forma? A velhice traz a perda da libido?

Sobre a libido, lentifica gradualmente, como falamos acima; o orgasmo tende a ser um pouco menos intenso e menos duradouro, mas de nenhuma forma as modificações do envelhecimento normal tornam o orgasmo menos prazeroso. Por outro lado, as mulheres, que frequentemente experimentam o orgasmo após um período de estímulo sexual em geral mais longo que os homens, podem ter dificuldades em atingir o orgasmo caso seus parceiros o atinjam antes. No entanto, neste sentido nada muda em relação ao que se orienta aos casais mais novos: o estímulo sexual feminino durante as preliminares e eventualmente após o orgasmo masculino, bem como a prática do sexo oral, podem suprir eventuais dificuldades. 

 

– Homens são mais livres para exercer a sexualidade em todas as fases da vida inclusive na velhice do que as mulheres? Se sim, por quê?

Na nossa cultura sexual frequentemente machista, eu diria que sim. Mas isto é verdade somente no sentido mais público da questão, ou seja, homens se sentem mais à vontade para comentar em público e entre si sobre sua sexualidade, o que pode tender a mudar nas idosas das próximas gerações pelas próprias mudanças sociais da atualidade. Mas isto jamais inibiu a sexualidade feminina em sua intimidade – e não inibe nem mesmo para as mulheres idosas que não comentariam em público. A verdade é que é o fato de elas terem maior pudor de comentar em público sobre sua sexualidade do que os homens que gera a confusão acerca da sexualidade feminina na terceira idade. Mas isto não significa que sejam inibidas para exercerem elas também, a sua sexualidade!

 

– A exigência de que homens não podem falhar e mulheres têm de ter beleza e juventude atrapalha a vida sexual quando eles/elas chegam nesta idade?

Muito menos do que podemos crer. Antes de mais nada, muitos chegam à terceira idade com seus parceiros estabelecidos, ou seja, muitos são os casais que envelhecem juntos – e continuam se sentindo atraentes um para o outro e conscientes de sua sexualidade. Por outro lado, mesmo entre aqueles que se separam e enviuvam, a aproximação romântica entre indivíduos é, na enorme maioria dos casos e sempre que haja capacidade para isto, uma aproximação erótica. Como pessoas que envelheçam bem geralmente não anulam suas sexualidades, ser sexualmente ativo na terceira idade pode até mesmo ser considerado um parâmetro do bom envelhecimento! Finalmente, há que se enfatizar que a satisfação sexual de uma pessoa ou de um casal é muito mais complexa do que qualquer pessoa possa tentar definir ou padronizar: há casais de idosos que, incapacitados para a penetração sexual, não deixam de se beijar, acariciarem e se tocarem intimamente – e muitos não se consideram sexualmente insatisfeitos. Não há regra geral, mas não podemos nos esquecer de que o ser humano saudável é um ser sexualizado durante toda sua vida.

 

 

Maturidade x Autoestima

 

A maturidade é o tempo das responsabilidades materiais, como o trabalho, a família e as relações afetivas. Nessa fase, os objetivos que o indivíduo definiu deveriam ter sido alcançados. Normalmente a pessoa tem uma atividade profissional estável, não tem mais grandes lutas para chegar. Economicamente a situação é em geral mais tranquila. Afetivamente, os projetos são a longo prazo, e os investimentos são maiores nessa esfera. O que caracteriza essa fase da vida é o sentido da “responsabilidade”, que é posta em pauta em todos os aspectos: no trabalho, sobre a capacidade de gerir uma função profissional, nos aspectos econômicos, assim como nas situações familiares. Existem responsabilidades materiais com os aspectos práticos da vida, compras, vendas de bens, gestão da casa, etc. Existem responsabilidades afetivas, na escolha de manter uma relação de casal estável, mesmo sem chegar ao casamento.

Existe também uma responsabilidade paternal, no sentido de existir a possibilidade primeiro emocional e depois real de ser pai, tanto para quem já tem filhos e enfrenta os prazeres e dores de criá-los como para quem está elaborando a escolha de não tê-los ou a dor de não os poder ter.

“Os inimigos da autoestima nessa fase da vida estão nas situações mencionadas acima”, explica o Dr. Leonard F. Verea, psiquiatra especialista em Hipnose Dinâmica.

“No trabalho, o peso das responsabilidades: lutou tanto para chegar a ter o status profissional e, agora que possui tudo o que desejava, não consegue manter o ritmo. Administra tudo dando o máximo de si, mas paga o preço de não ter mais energias para o resto: não consegue cultivar as amizades, nem mesmo uma relação afetiva estável. Sente-se sozinha e avalia o próprio valor em função dos objetivos que alcança. Outra manifestação é com a insatisfação com o próprio trabalho: trabalhar serve somente para ganhar dinheiro e poder fazer aquilo que gosta. Mas passar o dia inteiro fazendo algo que não curte muito começa a se tornar difícil de sustentar, e o indivíduo começa a se sentir muito frustrado. Não percebe alternativas, e na realidade nem as procura: a sua autoestima decai e começa a ter a sensação de que não vai poder continuar assim por muito tempo. Outra situação é quando não se sente realizado profissionalmente: estudou durante muitos anos para poder desenvolver a atividade dos sonhos, mas até hoje está ainda engatinhando. A sensação é de não chegar nunca e, dia após dia, suporta a injustiça do mundo e dos colegas, alimentando sempre projeções para o amanhã e sonhos de vingança” explica Dr. Leonard.

Amor x baixa autoestima

Na relação de casal, uma das situações que alimentam a baixa autoestima é o fato de o indivíduo ser ainda solteiro contra sua vontade. O fantasma de ficar sozinho a vida toda começa a ser cada vez mais presente nos seus pensamentos e, junto com ele, a ansiedade de ter que fazer algo para reparar isso: toda vez que sai, o objetivo é encontrar alguém; quando encontra, não vive livremente esse momento, está sempre avaliando se o outro merece o seu tempo. Resultado? Todos fogem, e você fica sempre mais sozinho, firmando cada vez mais a ideia de que não merece o amor de alguém. Outra manifestação na relação de casal é não ter uma relação feliz: vive uma relação há muitos anos e sente que, mesmo que os dias passem sem prazeres nem cumplicidades, não pode mais mudar de ideia. Por outro lado, muitos dos seus amigos vivem uma relação parecida: justifica isso dizendo que o amor e a paixão acabam com o tempo, deixando espaço a um afeto mais brando. O problema é que o seu corpo, mais sábio, não acompanha a sua racionalidade, e denuncia o mal-estar com uma série de somatizações: cefaleia, distúrbios sexuais, ansiedade, nervosismo, insônia, falta ou excesso de apetite etc. Outra situação é quando o parceiro trai: raiva, desilusão e cinismo são os ingredientes que essa situação cria em você e que abalam sua autoestima profundamente.

Todos se sentem na obrigação de lhe dizer o que fazer, e você não consegue entender o que realmente deseja. Perdão? Vingança? Fuga? Muitas perguntas sem respostas, mas finalmente uma dúvida cruel, que põe fim à sua autoestima já muito abalada: “Se fui traído, talvez tenha sido por merecer”. A relação na qual acreditava acabou: tinha feito muitos planos, alguns postos em prática: a casa, o casamento, os filhos. Improvisadamente sente-se sozinho, como acordando bruscamente de um sonho. É uma realidade que dá medo. Como recomeçar? Onde errou? Quem vai te querer agora? Como perceber quem será a pessoa certa? Os sentimentos de culpa e a sensação de fracasso completam a obra, e a dificuldade maior é encontrar um sentido no que aconteceu.

Na relação com os filhos

Sentir-se culpado por achar não ter conseguido criar um bom relacionamento com os filhos é uma ameaça para a boa autoestima. “Não consigo ter filhos.” Tentou de todas as formas. Talvez nem tenha uma causa física, mas nada de engravidar. A vida inteira ouviu dizer que a mulher se realiza plenamente quando tem filhos, e isso não a ajuda. Aliás, sente-se inadequada, com muitas perguntas e dúvidas, e isso gera uma ansiedade cada vez maior; nem consegue aceitar que sua vida é valiosa, mesmo sem ter filhos. “Não sou um bom pai.” Filhos rebeldes ou com dificuldade na escola? A resposta é que não serve como pai. Mesmo que tenha feito o melhor para que tudo desse certo, culpa-se porque tem pouco tempo para dedicar aos filhos, culpando assim também suas atividades. Se o parceiro tenta minimizar o fato, sente ainda mais o peso da responsabilidade nas costas. “Sinto-me abandonado pelos filhos que se tornam adultos.” Tudo deu certo até que os filhos precisavam de você. Mas, agora que estão crescendo, que se tornam cada vez mais autônomos e não dependem mais dos pais, você se sente inútil. Ser pai era visto como sinônimo de “dar”, e agora, junto ao prazer de ver os filhos se tornarem adultos, o medo de perdê-los e de não servir mais para nada é cada vez mais presente.

A crise da meia idade é um momento crítico com o qual todos vão ter que lidar

A vida parece ser sempre a mesma, e a pessoa sente a necessidade de fugir dos hábitos, da rotina. O parceiro que conhece há muito tempo não reserva surpresas nem fortes emoções. E você? O corpo não tem mais a energia de um tempo: as rugas, a barriguinha, os cabelos grisalhos não somem da sua frente. Parece que não gosta de mais nada de você, nem dentro nem fora. É muito fácil nesse momento da vida achar que pode resolver a crise com algumas folias: uma atitude inconsequente no trabalho, um amante, a compra de algo caro e luxuoso… Seja bem-vinda à folia saudável, se isso te permite manter ao longo do dia uma postura consciente de leveza. Mas o perigo existe quando essas atitudes são uma fuga da realidade, perigosas e difíceis de gerir, que, quando voltar à real, podem fazê-la se sentir pior do que antes.

A menopausa é considerada como o fim da vida fértil, mas, para muitas mulheres, representa ainda um momento dramático da própria vida, um momento a ser postergado o máximo possível, mesmo recorrendo a fármacos. Muitas mulheres ignoram o sentido mais simbólico da menopausa: a mulher passa da capacidade de gerar um filho à possibilidade de elevar a própria energia e se abrir para uma capacidade de gerar bem mais ampla. A sexualidade, liberada finalmente do risco da concepção, pode ser vivida com maior leveza e espontaneidade.

Na prática: viver o prazer pelo prazer

Uma happy hour com os amigos antes de voltar para casa? Por que não? Fazer amor de manhã logo após acordar antes de ir ao trabalho? Por que não? Sim, não resista! Viva o presente! Quem quiser ser feliz, seja. Do amanha não se tem certeza. Gozar das coisas boas não cansa, aliás, descansa o cérebro e o regenera. Esvaziando a mente, o prazer elimina as recriminações e ativa as áreas cerebrais que produzem bem-estar. Viva as situações imprevistas como algo bom, que pode agregar coisas boas à sua vida. Elimine as frases em “negativo”, as frases em “absoluto”, os “porquês”, os verbos no “condicional”. Evite se comparar com o passado, evite as promessas para o futuro. Mude sua imagem: às vezes, estamos muito presos a uma imagem antiquada de nós mesmos. Roupas, acessórios, penteado novo ajudam a fazer com que nos sintamos bem desde o começo do dia. Vestir a roupa que mais gosta, fazer isso por si mesmo, para se gostar cada vez mais.

 

Os cinco alicerces da autoestima são:

1) Conhecer a si mesmo: desenvolver a capacidade de se desprender das coisas materiais, vivendo a sensação de intenso e íntimo bem-estar, independentemente dos fatores externos.

2) Conhecer o universo: viver em equilíbrio consigo e com o mundo, sem passar o tempo se questionando sobre o porquê vive ou sofre, mas “dançando conforme a música”, sem julgamentos, aproveitando o máximo do que a vida tem de bom a oferecer.

3) Ser consciente: não viver seguindo princípios morais predefinidos, mas estar presente ao que acontece ao seu redor, agindo conforme o momento e o bom senso, sem pré-julgamentos: dessa forma, nos regeneramos e nos reconstituímos permanentemente.

4) Ser livre: viver livre dos rótulos, dos preconceitos, das ideologias e dos valores pré-concebidos; ter liberdade com as paixões, com os sentimentos, para que sejam vividos de forma ativa e não passiva; ter liberdade para consigo mesmo.

5) Encontrar o próprio talento: desenvolver a capacidade de se renovar e de se recriar: aproveitar a própria criatividade em tudo aquilo que se faz, tanto nas coisas mais simples, como nas atividades mais complexas.

 

“Ser consciente da própria personalidade e agir sem medo do julgamento dos outros.” Isso é muito mais do que uma simples definição: é conhecer a si mesmo, é ser livre das expectativas e dos julgamentos, é encontrar o próprio talento e não ter medo de expressá-lo. Somente assim poderemos ser felizes, finaliza Dr. Leonard.

 

 

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